Invoco nesse instante
A força da poesia,
Para narrar uma história,
Duvidosa, eu diria,
Que tudo em quanto na vida
Uma história se cria.
Quando eu era pequeno
Tive a satisfação,
De ouvir meu pai contar,
As lendas deste sertão,
E ficava mais alegre
Quando vinha o tio Romão.
Também meu familiar,
Sujeito aposentado
Que gosta de passear,
Sempre vem ao Lisieux
Com histórias pra contar.
Na região de Goiás,
Caboclo muito engraçado
Conversador é demais,
Mais as suas anedotas,
São de cair para traz.
Era disputa acirrada
Cada qual contava uma
Sempre mais bem afiada,
Mais papai se superou
Contou uma bem danada.
Ou Raimundo Areal,
Mas, Raimundo José Rodrigues
É seu nome batismal
Chame como preferir,
O que lhe achar mais formal.
Que na Serra do Pajé.
Habitou – se lá no alto,
Não sei se foi de má fé,
Assombrando tudo e todos,
Homem, menino e mulher.
E fez dela moradia,
O povo dentro de casa
Não entrava e nem saia,
Vou descrever como era
A sua fisionomia.
Tinha dois metros de altura,
O bico dava dois palmos,
Dez centímetros de grossura,
E as asas, duas navalhas,
Bem afiadas e duras.
Como as cinzas de um fogão,
Os olhos eram vermelhos,
Como a larva de um vulcão,
E as suas garras eram
Maior de que uma mão.
Pois dei a explicação,
Como era a Coruja,
Que causava assombração,
Vou citar tudo o que ela
Fazia a população.
Ao redor daquela Serra,
Os moradores aflitos,
Enfrentavam uma guerra
Com os desfecheis da coruja
Assombrando aquela terra.
Que os moradores tinha
Peru, pato, galo, capote,
Pinto, frango e galinha,
Pegava quando queria,
No terreiro da cozinha.
Foi se acabando aos pouquinhos,
Cabra, bode, carneiro,
Ovelhas com cordeirinhos,
Porcos dentro de chiqueiros,
E porcas com bacorinhos.
Fazia o seu melhor,
Planejava bem a tática,
Pois a caça era maior,
Depois de pego levava,
Retalhado bem menor.
Que aquele monstro causava,
Devido tanto estrago
Ninguém mais nada criava
Sabiam que era inútil,
De nada adiantava.
Era um pouco diferente,
Saia durante a noite,
E de dia no sol quente,
Sua sombra se estendia
Da Serra para Vertente.
Silenciava o sertão,
O povo dentro de casa
Prestava bem atenção
Para escutar o seu canto,
De tristeza e solidão.
E o povo ansioso,
Esperava o momento
Desse canto tenebroso,
Que ao mesmo tempo tinha
Um sonoro lagrimoso.
Por toda amplidão
Que até lugares distantes,
De certa povoação,
Por mais longe que se fossem
Ouviam com perfeição.
Devido viver sozinha
Porque tinha perdido,
O parceiro que ela tinha,
Mataram seu companheiro
E deixaram-na doidinha.
Em quanto meu pai contava
A história, e meu tio,
De pressa logo chamava
Minha irmã pra imitar
Como a Coruja cantava.
-Rosiana venha cá,
Sendo ela a caçula,
Ele mandava imitar,
E em troca da imitação
Tinha um presente pra dar,
Vamos ser mais curioso
Que o destino da Coruja
Vai ficar desanimoso,
Ela agora vai pagar
Do jeito mais desgostoso.
Decidiu criar coragem,
E numa noite sem lua
Entrou na mata selvagem,
Só com uma cartucheira
E dez cartuchos de vantagem.
Eu não sei lhe informar
Era um sujeito cigano
Que gostava de andar,
E que soube dessa fera
Então veio confirmar.
Sem nenhum pingo de medo,
Não falava com ninguém,
Talvez por algum segredo,
Ou então é porque ele
Não gostava de enredo.
Escondeu – se atrás de uma gruta
Viu de perto a furna grande,
E dentro a fera bruta,
Esperou a hora certa
Pra enfrentar a labuta.
Com a passada exata,
Surpreendeu a Coruja,
Dando – lhe uma gravata,
E os cartuchos da sua arma
Tinha as balas de prata.
Dentro de um grutilhão,
Mas ele muito astuto,
Caiu de arma na mão,
Atirou muito ligeiro
Acertando o coração.
Você de mim não esqueça
Isso serve para todos,
Para que não me aborreça,
E os nove cartuchos restantes
Ele atirou na cabeça.
Já não tinha uma beira,
Ele foi ao povoado,
E de forma bem faceira
Disse – A besta fera está morta
Pode ser que alguém queira.
E na estrada seguiu.
Num momento de descuido
Da vista ele sumiu,
E o canto da coruja
Ninguém nunca mais ouviu.
Mataram aquela fera
Mas na furna onde morava,
Tem dois ovos de esfera,
Dizem que com cem anos
Vão vingar – se da espera.
Orgulhosamente fiz,
Se você não conta uma,
Então por que se mal diz?
Na rima é que eu me sinto,
O sujeito mais feliz!
Autor: Roseno Oliveira
Dt. 26/12/2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito Obrigado, Seu Comentário é de Fundamental Importância!