Literatura
de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois
impressa em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel, expostos
para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome
que vem lá de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em
barbantes. No Nordeste do Brasil, herdamos o nome (embora o povo chame
esta manifestação de folheto), mas a tradição do barbante não
perpetuou. Ou seja, o folheto brasileiro poderia ou não estar exposto
em barbantes. São escritos em forma rimada e alguns poemas são
ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas.
As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores,
ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada,
acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito
empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.
Índice [esconder]
1 História
2 Poética
2.1 Quadra
2.2 Sextilha
2.3 Septilha
2.4 Oitava
2.5 Quadrão
2.6 Décima
2.7 Galope à beira-mar
2.8 Martelo
2.9 Redondilha
2.10 Carretilha
3 Métrica e Rima
4 Bibliografia
5 Referências
6 Ligações externas
História
A história da literatura de cordel começa com o romanceiro
luso-holandês da Idade Contemporânea e do Renascimento. O nome cordel
está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal,
onde eram pendurados em cordões, lá chamados de cordéis. Inicialmente,
eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil
Vicente (1465-1536).Foram os portugueses que trouxeram o cordel para o
Brasil desde o início da colonização. Na segunda metade do século XIX
começaram as impressões de folhetos brasileiros, com características
próprias daqui. Os temas incluem desde fatos do cotidiano, episódios
históricos, lendas , temas religiosos, entre muitos outros. As façanhas
do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o
suicídio do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos
assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. Não há limite
para a criação de temas dos folhetos. Praticamente todo e qualquer
assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta competente.
No Brasil, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste,
sobretudo nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte
e do Ceará. Costumava ser vendida em mercados e feiras pelos próprios
autores. Hoje também se faz presente em outros Estados, como Rio de
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O cordel hoje é vendido em feiras
culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos
cordelistas.
Os poetas Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e João Martins de Athayde
(1880-1959) estão entre os principais autores do passado.[1]
Todavia, este tipo de literatura apresenta vários aspectos interessantes e dignos de destaque:
As suas gravuras, chamadas xilogravuras, representam um importante espólio do imaginário popular;
Pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das
tradições populares e dos autores locais (lembre-se a vitalidade deste
gênero ainda no nordeste do Brasil), a literatura de cordel é de
inestimável importância na manutenção das identidades locais e das
tradições literárias regionais, contribuindo para a perpetuação do
folclore nacional; Pelo fato de poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um
número elevado de exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de
hábitos de leitura e lutam contra o analfabetismo;
A tipologia de assuntos que cobrem, crítica social e política e textos
de opinião, elevam a literatura de cordel ao estandarte de obras de
teor didático e educativo.
Poética
Trabalho de alunos, praça em Cerqueira César Quadra
Estrofe de quatro versos. A quadra iniciou o cordel, mas hoje não é
mais utilizada pelos cordelistas. Porém as estrofes de quatro versos
ainda são muito utilizadas em outros estilos de poesia sertaneja, como
a matuta, a caipira, a embolada, entre outros.
A quadra é mais usada com sete sílabas. Obrigatoriamente tem que haver
rima em dois versos (linhas). Cada poeta tem seu estilo. Um usa rimar a
segunda com a quarta. Exemplo:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá (2)
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá (4).
Outro prefere rimar todas as linhas, alternando ou saltando. Pode ser a
primeira com a terceira e a segunda com a quarta, ou a primeira com a
quarta e a segunda com a terceira. Vejamos estes exemplos de Zé da Luz:
(ABAB ou ABBA)
E nesta constante lida
Na luta de vida e morte
O sertão é a própria vida
Do sertanejo do Norte
Três muié, três irimã,
Três cachorra da mulesta
Eu vi nun dia de festa
No lugar Puxinanã.
Sextilha
É a mais conhecida. Estrofe ou estância de seis versos. Estrofe de seis versos de sete sílabas, com o segundo, o quarto e o sexto rimados; verso de seis pés, colcheia, repente. Estilo muito usado nas cantorias, onde os cantadores fazem alusão a qualquer tema ou evento e usando o ritmo de baião. Exemplo:
Quem inventou esse "S"
Com que se escreve saudade
Foi o mesmo que inventou
O "F" da falsidade
E o mesmo que fez o "I"
Da minha infelicidade.
Septilha
Estrofe (rara) de sete versos; setena (de sete em sete). Estilo muito usado por Zé Limeira, o Poeta do Absurdo.
Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraiba falada
Cantando nas escrituras
Saudando o pai da coaiada
A lua branca alumia
Jesus, Jose e Maria
Três anjos na farinhada.
Napoleão era um
Bom capitão de navio
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio.
Na septilha ele usa o estilo de rimar a segunda linha com a quarta e a
sétima e a quinta com a sexta, deixando livres a primeira e a terceira.
Oitava
Estrofe ou estância (grupo de versos que apresentam, comumente, sentido
completo) de oito versos: oito-pés-em-quadrão. Oitavas-a-quadrão.
Como o nome já sugere, a oitava é composta de oito versos, ou oito
linhas ou duas quadras, com sete sílabas. A rima na oitava difere das
outras. O poeta usa rimar a primeira com a segunda e terceira, a quarta
com a quinta e oitava e a sexta com a sétima. Todas as estrofes são
encerradas com o verso: Nos oito pés a quadrão. Vejamos versos de uma
contaria entre José Gonçalves e Zé Limeira: - (AAABBCCB)
Gonçalves:
Eu canto com Zé Limeira
Rei dos vates do Teixeira
Nesta noite prazenteira
Da lua sob o clarão
Sentindo no coração
A alegria deste canto *
Por isso é que eu canto tanto *
NOS OITO PÉS A QUADRÃO
Limeira:
Eu sou Zé Limeira e tanto
Cantando por todo canto
Frei Damião já é santo
Dizendo a santa missão
Espinhaço e gangão
Batata de fim de rama *
Remédio de velho é cama *
NOS OITO PÉS A QUADRÃO.
Quadrão
Oitava na poesia popular, cantada, na qual os três primeiros versos
rimam entre si, o quarto com o oitavo, e o quinto, o sexto e o sétimo
também entre si.
Décima
Estrofe de dez versos, com dez ou sete sílabas, cujo esquema rimático
é, mais comumente, ABBAACCDDC, empregada sobretudo na glosa dos motes,
conquanto se use igualmente nas pelejas e, com menos frequência, no
corpo dos romances.
Geralmente nas pelejas é dado um mote para que os violeiros se
desdobrem sobre o mesmo. Vejamos e exemplo com José Alves Sobrinho e Zé
Limeira:
Mote:
VOCÊ HOJE ME PAGA O QUE TEM FEITO
COM OS POETAS MAIS FRACOS DO QUE EU.
Sobrinho:
Vou lhe avisar agora Zé Limeira B
Vou lhe amarrar agora a mão e o pé >B
E lhe atirar naquela capoeira C
Você hoje se esquece que nasceu >C
E se lembra que eu sou bom e perfeito >D
Você hoje me paga o que tem feito >D
Com os poetas mais fracos do que eu. >C
Zé Limeira:
Mais de trinta da sua qualistria
Não me faz eu correr nem ter sobrosso
Eu agarro a tacaca no pescoço
E carrego pra minha freguesia
Viva João, viva Zé, viva Maria
Viva a lua que o rato não lambeu
Viva o rato que a lua não roeu
Zé Limeira só canta desse jeito
Você hoje me paga o que tem feito
Com os poetas mais fracos do que eu.
Galope à beira-mar
Estrofe de 10 versos hendecassílabos (que tem 11 sílabas), com o mesmo
esquema rímico da décima clássica, e que finda com o verso "cantando
galope na beira do mar" ou variações dele. Termina, sempre, com a
palavra "mar".
Às vezes, porém, o primeiro, o segundo, o quinto e o sexto versos da estrofe são heptassílabos, e o refrão é "meu galope à beira-mar". É considerado o mais difícil gênero da cantoria nordestina, obrigatoriamente tônicas as segunda, quinta, oitava e décima primeira sílabas.
Às vezes, porém, o primeiro, o segundo, o quinto e o sexto versos da estrofe são heptassílabos, e o refrão é "meu galope à beira-mar". É considerado o mais difícil gênero da cantoria nordestina, obrigatoriamente tônicas as segunda, quinta, oitava e décima primeira sílabas.
Sobrinho:
Provo que eu sou navegador romântico
Deixando o sertão para ir ao mirífico
Mar que tanto adoro e que é o Pacífico
Entrando depois pelas águas do Atlântico
E nesse passeio de rumo oceânico
Eu quero nos mares viver e sonhar
Bonitas sereias desejo pescar
Trazê-las na mão pra Raimundo Rolim
Pra mim e pra ele, pra ele e pra mim
Cantando galope na beira do mar.
Limeira:
Eu sou Zé Limeira, caboclo do mato
Capando carneiro no cerco do bode
Não gosto de feme que vai no pagode
O gato fareja no rastro do rato
Carcaça de besta, suvaco de pato
Jumento, raposa, cancão e preá
Sertão, Pernambuco, Sergipe e Pará
Pará, Pernambuco, Sergipe e Sertão
Dom Pedro Segundo de sela e gibão
Cantando galope na beira do mar.
Martelo
Estrofe composta de decassílabos, muito usada nos versos heroicos ou
mais satíricos, nos desafios. Os martelos mais empregados são o
gabinete e o agalopado.
Martelo agalopado - Estrofe de dez versos decassílabos, de toada violenta, improvisada pelos cantadores sertanejos nos seus desafios.
Martelo de seis pés, galope - Estrofe de seis versos decassilábicos. Também se diz apenas agalopado.
Martelo agalopado - Estrofe de dez versos decassílabos, de toada violenta, improvisada pelos cantadores sertanejos nos seus desafios.
Martelo de seis pés, galope - Estrofe de seis versos decassilábicos. Também se diz apenas agalopado.
Redondilha
Antigamente, quadra de versos de sete sílabas, na qual rimava o
primeiro com o quarto e o segundo com o terceiro, seguindo o esquema
abba.
Hoje, verso de cinco ou de sete sílabas, respectivamente redondilha menor e redondilha maior.
Carretilha
Literatura popular brasileira - Décima de redondilhas menores rimadas na mesma disposição da décima clássica; miudinha, parcela, parcela-de-dez.
Métrica e Rima
Métrica:
Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.
Sistema de versificação particular a um poeta. Contagem das sílabas de
um verso. Verso é a linguagem medida. Para medir devemos ajuntar as
palavras em número prefixado de pés. Chama-se pé uma sílaba métrica. O
verso português pode ter de duas a doze sílabas. Os mais comuns são os
de seis, sete, oito, dez e doze pés. Como o verso mais comum, mais
espontâneo é o de sete pés, comecemos nele a contagem métrica. Exemplo:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
Eis como se contam as sílabas:
Mi | nha | ter | ra |tem | pal | mei|
Não contamos a sílaba final "ras" porque o verso acaba no último acento
tônico. O verso a quem sobra uma sílaba final chama-se grave. Aquele a
quem sobram duas sílabas finais chama-se esdrúxulo. O terminado por
palavra oxítona chama-se agudo, como o segundo e o quarto do exemplo
supra. Eis como se decompõe o segundo verso:
On | de | can | ta o | sa | bi |á|
Nesse verso "ta o" se leem como t'o formando um pé, pela figura
sinalefa (fusão) . Sabiá, modernamente, se deve contar dissílabo,
porque biá, em duas silabas, forma hiato. Em geral devemos sempre
evitar o hiato, quer intraverbal, quer interverbal. Os autores antigos
e os modernos pouco escrupulosos toleram muitos hiatos.
Sinalefa:
Figura pela qual se reúnem duas sílabas em uma só, por elisão, crase ou sinérese.
Sinérese:
Contração de duas sílabas em uma só, mas sem alteração de letras nem de sons, como, p. ex., em reu-nir, pie-da-de, em vez de re-u-nir, pi-e-da-de.
As| aves | que a| qui | gor| jei |
Não | gor | jei| am | co | mo | lá |
No caso o verso é um heptassílabo, porque só contamos sete sílabas. Se
colocarmos uma sílaba a mais ou a menos em qualquer dos versos, fica
dissonante e perde a beleza e harmonia.
Vale lembrar que quando a palavra seguinte inicia com vogal, dependendo do caso, pode haver a junção da sílaba da primeira com a segunda, como se faz na língua francesa. Exemplo:
Para verificar a quantidade de silabas podemos contar nos dedos. Vejamos neste trechinho de Patativa do Assaré:
Vale lembrar que quando a palavra seguinte inicia com vogal, dependendo do caso, pode haver a junção da sílaba da primeira com a segunda, como se faz na língua francesa. Exemplo:
Para verificar a quantidade de silabas podemos contar nos dedos. Vejamos neste trechinho de Patativa do Assaré:
Nes | ta | noi | te | pas | sa | gei | ra
1 2 3 4 5 6 7
Há | coi| sa | que | mui | to | pas | ma
1 2 3 4 5 6 7
Um mote:
Vou | fa | zer | se | re | na | ta | na | cal | ça | da
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Da | me | ni | na | que a | mei | na | mi | nha | vi | da
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Rima
Rimas consoantes:
As que se conformam inteiramente no som desde a vogal ou ditongo do acento tônico até a última letra ou fonema. Exemplo: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita.
Rimas toantes:
Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das
vogais ou ditongos que levam o acento tônico, ou, algumas vezes, só nas
vogais ou ditongos da sílaba tônica. Exemplo: fuso e veludo; cálida e
lágrima; "Sem propósito de sonho / nem de alvoradas seguintes, /
esquece teus olhos tontos / e teu coração tão triste." Cecília
Meireles, Obra Poética, p. 516.
No caso da literatura de cordel nordestina, faz parte da tradição do gênero o uso de rimas consoantes. Se um folheto de cordel usa rimas toantes, o conhecedor de cordel pensa logo que o autor daquele folheto desconhece a existência destas regras. Um cordel escrito assim pode até ser um grande poema, mas não se pode dizer que se trata de 'um cordel autêntico'.
No caso da literatura de cordel nordestina, faz parte da tradição do gênero o uso de rimas consoantes. Se um folheto de cordel usa rimas toantes, o conhecedor de cordel pensa logo que o autor daquele folheto desconhece a existência destas regras. Um cordel escrito assim pode até ser um grande poema, mas não se pode dizer que se trata de 'um cordel autêntico'.
Fonte: http://poetapopularpotiguar.blogspot.com.br/
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